23º dia da Expedição Espinhaço Ponta a Ponta de Bicicleta, Fabiano Zig
Trecho: Ipupiara, Gentio do Ouro, Gameleira do Assuruá e Xique-xique.

Chegamos à reta final da Expedição Serra do Espinhaço, a Cordilheira Brasileira, de Bicicleta. Um misto de emoções me atingiu neste momento, felicidade, gratidão, superação e todos os outros sentimentos bons que se pode ter quando realizamos um sonho...

Nos últimos dias eu passei por Brotas de Macaúbas, Ipupiara, Gentio do Ouro e Gameleira do Assuruá e em todas essas cidades a minha presença era algo de outro mundo. Acho que ninguém passou de bicicleta por aqui vindo de tão longe.

Em Ipupiara a Serra do Espinhaço recebe o nome de Serra do Carranca, devido a imagem que se forma em cima da serra. Peguei uma estrada de terra, com muita areia, muito difícil de pedalar, o dia estava quente e quando eu decidi descansar na sombra de um Umbuzeiro,eu encontrei uma aranha caranguejeira do tamanho de minha mão,fazendo o mesmo que eu, ou seja, descansando...

Em Gentio do Ouro, um morador local me seguiu enquanto eu fazia o reconhecimento da cidade, assim que eu percebi a sua presença, eu parei a Jack e perguntei se estava tudo bem, ele me disseque sim que só estava admirando a minha bicicleta e coragem... Era véspera de carnaval e as crianças já faziam a festa com suas máscaras... Neste dia eu decidi pedalar a noite, durante toda a expedição eu ainda não havia feito isso, e como a minha vontade de chegar era grande, eu quis esticar o pedal e entrei noite adentro até chegar Gameleira do Assuruá. Como a estrada me oferecia segurança, o pedal noturno foi ótimo!

Ali em Gameleira seria a minha última parada da Expedição, a minha última dormida depois de tantas hospedagens inusitadas, depois de tantos anjos terem me acolhido e não foi diferente aqui. Passei a noite no Bar de seu Valentin e no outro dia pela manhã fui tomar café numa pousadinha e depois que eu falei sobre a minha saga, o café da manhã foi cortesia e ainda ganhei um livro fotográfico sobre o lugar. As emoções nunca acabam quando a gente está numa cicloviagem...

Agora sim, estava na reta final de fato. Estava numa altitude alta, em cima do Espinhaço. A descida foi maravilhosa alguns quilômetros abaixo, sentindo Xique Xique e a Serra do Espinhaço como se estivesse se despedindo de mim ia se desmanchando até chegar o nível do sertão. Após chegar aos seus pés, o Espinhaço vai sumindo e aos poucos o gigante se desfaz e se encontra com o sertão... Poético, lindo e majestoso, 1900 km mais ou menos, tantas paisagens, tantas pessoas, tantas emoções.
Só me faltava agora 36 km para chegar a Xique Xique. A minha vontade era de recomeçar e fazer tudo novamente. Sair de Ouro Branco, enfrentar as subidas das Serras de Minas Gerais, tomar muita chuva e "comer" lama, pedalar na secular Estrada Real, passar muitas noites no Parque Estadual do Rio Preto, dormir em todos os postos de combustível, aceitar um almoço, janta ou copo de água, atravessar a divisa dos Estados de Minas e Bahia, conhecer o sertão, me reencontrar em minha casa na Chapada Diamantina e agora chego ao meu objetivo a cidade as margens do Rio São Francisco, Xique Xique. Cheguei num domingo, cidade vazia, nenhuma festa ou homenagem, eu também não esperava por isso e nem queria. Sonho realizado, felicidade extrema, porém nada de choradeira, me senti apenas como um garotinho que numa tarde de domingo foi dar uma voltinha de bicicleta.

Quero apenas chamar a atenção para a importância que tem a Cordilheira Brasileira, a Serra do Espinhaço, que precisa ser preservada e amada... Muito grato a Cordilheira do Espinhaço, você é um gigante que abençoa milhares de pessoas e acolhe milhares de espécies de plantas e animais. Você merece ser respeitado e amado por mais dois bilhões de anos.


Fabiano Zig

Veja fotos e saiba mais em: http://ow.ly/z19DK

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